segunda-feira, 5 de abril de 2010

Cotidiano


Cotidiano
(Argentino Vidal)

Levanta já atrasado
Pra mais um dia da lida
Ajeita o esqueleto no corpo
De uma noite mal dormida
Calça a butina surrada
Enfia a roupa amassada
Toma o café requentado
E ainda mal comido
Sai do barraco apressado
E ainda são seis da matina

Lotada a estação te espera
Pendura no estribo do trem
E ainda rola um cochilo
De um lado pesa a marmita
De uma parca comida
Do outro guarda no bolso
O troco medido da volta
Mas logo o apito e a parada
Desperta teu sono pra vida

Vai trabalhar homem......
Espera-te ansioso o patrão
Que logo vem com o sermão
Ta atrasado de novo?
Já cheio o carrinho de brita
Espera-te à mistura pesada
No concreto de areia e cimento
Para cumprir a corrida diária
De uma rotina sem fim.

A tarde chega enfim
De volta pra cheia estação
Pendura de novo no estribo
Com as mãos calejadas doidas.
Rola de novo um cochilo.
De um lado a marmita vazia
Sobrou dela somente uma azia
Por ter comido ela fria
Do outro no bolso o troco pra pinga
Já noite tonto, chega ao barraco
Pendura a roupa fedida
Tira a butina apertada
Ajeita o esqueleto na cama
Pro outro dia de novo
Tudo recomeçar.
Eta vida danada, dorme ele.