segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Andança



Andança
(Argentino Vidal)

Andando pelas ruas da cidade
Vi crianças entorpecendo seus destinos
Enquanto eu revelava o meu medo incoerente
Elas revelavam nosso abandono desumano

Os vi dormindo pelas frias noites nas calçadas
Ou nas escadarias das catedrais santificadas
Pois onde antes seus pomposos adros davam abrigos
Hoje se tornaram locais sagrados gradeados.

Lá o amor de Cristo tão pregado não é pra todos.
Preferem não olhar pra estes esquecidos
Lá onde os reis da terra serão eternos
Só por cuspirem palavras ritmadas tão divinas

Eu vi meninas vendendo sua essência
Na luta mercenária da sobrevivência
Pois enquanto muitos vivem aqui o paraíso
Outros comem seus restos apodrecidos

Eu vi mendigos implorando compaixão
Empunhando seu pedido por um pão
Pois enquanto uns temperam seu salmão
Outros vivem apenas do que caiu do chão

Eu vi mendigos arrastando seu quinhão
Empilhando restos velhos descartáveis.
Enquanto temos nossas vidas confortáveis
Pra eles ela pregou um papelão.

Por que não podemos dividir um pouco mais?
Por que será que somos assim tão egoístas?
Precisamos urgentemente irmanar um pouco mais?
Em vez de só cuspirmos palavras ritmadas tão divinas
Antes que seja tarde, tarde demais.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Negro e Branco




Negro e Branco
(Argentino Vidal)

Pus na terra vários seres
Cada qual com seu encanto
Muitos com muitas cores
Outros, porém nem tanto.

Variados minerais
Verdes, vermelhos, azuis, amarelos.
Multicoloridos, brancos e pretos.
Outros translúcidos cristalinos.

Pus nas aves penugens multicores.
Com lindos cantos variados
Umas magistralmente flutuam nos ares
Outras desfilam na terra e alagados.

Nas frutas eu caprichei.
Fiz com todas as cores que tinha.
Acho até que exagerei.
No principal alimento da vida.

E as flores e plantas então.
Essas são minha obra prima
Contemplam minha emoção
Nos perfumes, cor e forma.

Meus bichos reclamar não podem.
Pois eles, lindamente pintei.
E pra este jardim do éden.
Suas formas eu mesclei

Todo esse colorido mundo então.
Juntos estão em harmonia perfeita.
Cada um com sua função.
No grande projeto da vida.

Fiz o ser maior de meus sonhos
Nele não me importei com as cores
Pois maior que formatos externos
Deixei a luz de seus poderes.

Já com minha aquarela sem tinta.
Misturei o meu resto de cores
Fazendo daquilo que tinha
Duas lindas tonalidades.

Externos são claros e negros
Pro cerne compus outras cores
Para que juntas de dourados
Colorissem a almas dos seres.

Porém no fundamento do mundo que fiz.
Não entenderam as maravilhas que usei.
Pois só se preocuparam neste matiz.
Nos da pele de claro e negro que pintei.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cachaça e Poesia



Cachaça e Poesia
(Argentino Vidal)

Gotas doces do bagaço destilada
No fulgor do cobre é aromada
Purificado o sabor canavial
Nasce aguardente sem igual

No carvalho com o tempo toma cor
Realçando ainda mais o seu sabor
Seu buquê açucarado inconfundível
Torna-se um drinque irresistível

É bebida aguardente magistral
Genuinamente de origem nacional
Pode ser na caipirinha brasileira
Ou tomada naturalmente à mineira
Misturei assim na minha alquimia
Cachaça e Poesia

Este poema tem duas versões. Veja a outra no link "Cachaça Poesia"

Aqueles Momentos




Aqueles Momentos
(Argentino Vidal)

Não disse ao seu ouvido palavras de amor
Apenas despertei em ti momentos de volúpia
Senti na sua boca o licor da ansiedade
Tão presente naqueles tempos de nossa mocidade

Nossos copos de cerveja lado a lado ali na mesa
Aguardavam pacientemente próximo gole
Enquanto nossos corpos recostados olho a olho
Mixava o silêncio prazeroso do momento
Ao ruído efervescente noturno da cidade

Vi despertar em ti o gozo do prazer
Senti o coração bater na tua e na minha boca
Senti efervescer na alma algo inexplicável
Algo tão tangível realizável
Basta querer e ser querido

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Imensidão do Mar



Imensidão do Mar
(Argentino Vidal)

Sobre o mar altivo ao vento.
Deixei naufragar meu pensamento
Do meu mundo cruel, incompreendido.
No sabor das ondas dissolvido

Caminhei no curto tempo da esperança
Guardei de te o sonho da lembrança
Entre espadas de fogo que queimava
Causado pelo efeito que de ti me separava

Senti aos poucos tudo terminado
Tentei guardar este momento, congelado.
Vigiei teu sono, pouco adiantou.
Pois cedo, meu pranto te acordou

E agora ao ver a imensidão do mar
Perdido no vazio triste de minha alma
Suspiro esta angústia que nos fez parar.

Este poema foi classificado na publicação "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâreos" Vol.58 da Editora CBJE (RJ), no dia 25/09/2009, entre mais de 5000 inscritos.

Calvário



Calvário
(Argentino Vidal)

Elevou-se ao ar ensangüentado
Crucificado no alto do calvário
Sob ardente sol aos poucos sufocado
No manto negro mortuário.

Gemidos soprados de vento forte
Quebravam prantos de amor perjuro
Que viam além da dor da morte
Imensa força de amor tão puro

Naquele cerne cedro cruzado
Em sacrifício cruel sem piedade
Um homem não mortal crucificado
Para redimir pra sempre a humanidade

E aos poucos horas do dia se passara
Mórbidos. Inocente vitimado
Deixado à morte que vencera
Estava tudo nesta hora consumado.

Este poema foi publicado em Poemas Dedicados da Editora CBJE (RJ),no dia 25/09/2009, dentre mais de 5000 inscritos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Primeiro Ato



Primeiro Ato
(ArgentinoVidal)

Sinto na brisa do ar teu perfume doce.
Minha emoção de te ver já não se resume
O brilho de teus olhos me fascina.
O brilho de seus olhos me domina.

Nesta mistura que sinto de ternura e de desejo.
Não consigo medir qual mais almejo.
Perco-me em palavras previamente versadas.
Tropeço minhas pernas embriagadas.

Neste turbilhão que meus sentidos fluem.
Permito que teus passos me provoquem.
Enquanto vejo no teu rosto serenidade e calma.
Transpiro no meu corpo a agitação da alma.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As Minhas Travessuras de Menino



Travessuras de Menino na Maria Fumaça
(Argentino Vidal)

De longe soa o apito
Da velha Maria Fumaça
Corre o moleque travesso
Lá pro fundo do seu quintal
Por onde ela vai passar

Ela passa de mansinho
Quase querendo parar
Ai o moleque travesso
Como gato agarra o estribo
Do último vagão a passar

De carona ao balaustre
Ergue seu corpo afora braço aberto
Gangorra de um lado pro outro
Para sentir bater o vento forte
Que sopra no rosto e arrefece a alma
E pra perigosamente deliciar
O néctar da sua travessura.

Nota- O trem é este mesmo da foto - hoje ele esta circulação somente entre Tiradentes e São João Del Rey. Mas antes passava no quintal da minha casa, 40 anos atrás, em Barbacena-MG.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Orvalho



Orvalho
(Argentino Vidal)

Junto ao meu caminhar molhado
Aquecendo meu corpo gelado
Trilhando sobre pedras salientes
Polidas pela ação do tempo
Na madrugada que repousa o vento
Sinto você do meu lado

E ao fim desta madrugada fria
Que me faz sentir um novo dia
Sepultando as doces gotas de orvalho
E no calor solar suave e brando
Surgem novos brados de bandos
De pessoas que caminham

Contemplada, partiu a madrugada.
Cheia de saudades que me agrada
Só por vigiar meu sossego
E ansioso espera-la próxima vinda
Chorando gotas de orvalho ainda
Pra novamente sentir você ao meu lado

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Olhai o Direito de Viver de Todos



Olhai o Direito de Viver de Todos
(Argentino Vidal)

Olhando o mundo sem nenhum apelo
Marcham exércitos desumanos
Seguindo o culto ao deus do século
Séqüitos instrumentos insanos
Bandos comandados a radar

Vão criando angústia com mãos de pedra
Suando gotas de sangue ferventes
Estilhaçando vidas almas pela metra
Restando somente aos inocentes
Morte, dores, eternas cicatrizes.

E na renúncia cega da vida alheia
Procuram levar seu mastro desfraldado
Fazendo suas armas de bateia
No garimpo do poder desmedido
Usam até núcleos radiativos.

E aos ombros dos grandes poderosos
Pesam sempre lucros econômicos
Comandando o mundo impiedosos.
Sem arrependimentos nem remorsos.
Pelas miseráveis vidas decepadas.

Lamentos se as trevas ouvissem
Talvez repugnassem e alegrariam
Pois se esta infernal vida sofressem.
Talvez comparada às trevas sentiriam.
Felizes por estarem em fornos pecadores.

Olhai o direito de viver de todos
Salvai desta contaminação que assola a terra.
Dos lucros com sangue inocente dotados
Trocando a violência ridícula da guerra.
Pelo amor, a paz que todos desejamos.

Este poema foi publicado em "Antologia dos Poetas Brasileiros" Vol. 57 em 26/08/2009