domingo, 6 de novembro de 2011

Meu Outeiro Mineiro


Meu Outeiro Mineiro
(Argentino Vidal)

Eu estava no topo do mundo
À sombra de grande jaqueira
O tempo passava preguiça
Juritis piavam ao longe
Canários ali e bem te vis acolá.
O vento soprava perfumes
Dos manacás tão floridos
Dos jambeiros de jambos vermelhos
Inebriando os sentidos.

Na encosta ao sopé de barranco
Corria a estrada amarela
Poeirenta que nem ela só
Lá um carro de boi melancólico
Chiava seu canto chorado
Puxado à manada de bois
Guiado pelo candeeiro matuto
Levava a colheita em palha
Lá pro moinho de pedra
Pra dourado fubá se tornar

Eu estava no meu outeiro
No topo de serra mineira
Perdia-se o meu olhar o infinito
Nos montes verdes azulados
Nos tortuosos vales ramados
Ali um riacho riscava cristalino
Com seus lambaris e piaus
Ao longe o barulho ecoado
Da cachoeira de águas brumas.
Rolavam em rochas vermelhas

De fundo minha caiçara morada
Seu telhado bem enegrecido
Com sua chaminé empinada
Soprando a fumaça do fogo
Do velho fogão à lenha
Eu via meu tempo passar
Mansinho como tem que ser
Afinal estava eu na roça
Aqui o tempo madorna.

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Volta


A Volta
(Argentino Vidal)

Daqui da minha janela eu vejo quase tudo.
Vejo o mar tão lindo azul ali na minha frente
Vejo o nascer do sol sempre resplandecente.
Vejo os pássaros que cantam para me alegrar
Em vão, nada me consola, não quero me consolar.

Vago de um lugar pro outro desorientado.
O tempo já não passa mais como antigamente.
Não consigo mais tirar você da minha mente.
Sinto um vazio enorme dentro de minh’alma.
Pois com você por perto minha vida acalma.

E assim a vida tem passado num desencanto só.
Quero retornar pra aquela vida de alegria.
Quero sentir de novo aquilo que eu sentia.
Ver nascer de novo sol resplandecente.
Sem ficar, contudo tão indiferente
.

domingo, 9 de outubro de 2011

Reflexões


Reflexões
(Argentino Vidal)

Ainda estou sem solução
Remonto só mentiras de emoção
Reflexos de um tempo perdido
Procuras sem sentido.

Agruras da alma se mostram
Nos rabiscos de uma busca vã
Somente tenho esboço de ilusão
Ofuscando minha solidão.

Sinto meu rumo se precipitar
Vejo o horizonte sem olhar
Algo que me faça renascer
Revigorar um novo amanhecer.

A fria luz da noite calma
Entorpece meus anseios d’alma
Recorro aos sentimentos que ainda tenho
Reflexões que me façam sentir vivo.

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Encontro


Encontro
(Argentino Vidal)

Encontrei em você
Um amor verdadeiro
Entreguei-me a ele
Sem pensar, por inteiro

Encontrei em você
Minha paz, linda luz
Iluminando minha áurea
O brilho que me seduz

Vi em você
Minha gema preciosa
O rubro rubi radiante
Minha rubra perfumada rosa
.

sábado, 16 de julho de 2011

Primeiro Vinho


Primeiro Vinho
(Argentino Vidal)

Tomamos nosso primeiro vinho
Lado a lado, duas taças cristalinas
Seu aroma ainda forte das videiras
No adocicado buquê daquele tinto

Podíamos sentir degustados
Gota a gota docemente eternizados
Nas nossas respirações, nos nossos lábios
Displicencias sem sentido, afagos percebidos

As duas taças cristalinas consonantes
Ali estão, lado a lado como dantes.
A espreita no bufê da minha sala
Para transbordar novamente de aroma de videira

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Último Vinho


Último Vinho
(Argentino Vidal)

Tomamos nosso último vinho
Lado a lado, duas taças cristalinas
Seu aroma ainda forte das videiras
No adocicado buquê daquele tinto

Podíamos sentir degustados
Gota a gota docemente eternizados
Nas nossas respirações, nos nossos lábios
Displicências sem sentido, afagos percebidos

As duas taças? Hoje vazias dissonantes
Ali estão, lado a lado como dantes.
Mas empoeirando no bufe da minha sala
Sem nenhum aroma de videira

...

terça-feira, 29 de março de 2011

A Noite


A Noite
(Argentino Vidal)

Às vezes olhamos em noite o céu sem seu finito
Nem vemos o brilho das estrelas nele postas.
O salto das cadentes até passou despercebido
Deixando escapar de nossos olhos maravilhas.

Se, porém paramos mais atentos em contemplo
Podemos certamente deslumbrar-nos, firmamento.
Bebermos pacientemente em furto tempo.
Toda força desta divina arte em movimento.

Às vezes põe-se a lua tão exulta.
Prateando nossas vistas em cor difusa.
Às vezes penetrando nossas vidraças de janela.
Inundando adentro sua fria luz intrusa.

Noutras podemos desfrutar perfumes raros
Aqueles que só à noite pelo vento são levados
Que embriagam os sentidos mais dispersos
Pois só Damas da Noite podem à noite exalá-los.

Tudo isso tem neste contexto seu encanto
Mas não pode em contento meu olhar ao seu furtar
Pois terá o seu ornamento reduzido tanto
Se não puder de tais momentos a ti compartilhar.

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Poema publicado em Antologias dos Poetas Brasileiros Comtemporâneos, em março de 2011.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Quid est Veritas



Quid est Veritas
(Argentino Vidal)

Encontrei certa pessoa dita abençoada
Dialogamos um assunto mais divino
Só por não compartilhar do seu sagrado credo
Fiquei com minha salvação comprometida

Para atiçar ainda mais a sua ira
Falei de Buda, Alan Kardec, Maomé
Disse até que há muito não sabia o que era fé.
Pra com sarcasmo despejar a minha birra.

Disse ela que eu estava possuído
Precisando urgentemente de uma benção.
Provavelmente já nem tinha mais perdão
Pra alcançar o seu sublime céu santificado.

Julgando serem os donos da razão e da verdade
Ela e outros com seus inquestionáveis credos
Acham que somente eles são os escolhidos
Abocanhando de uma só vez, a soberba e a vaidade.

Matamos por nossa ideologia, nossa verdadeira crença
Condenamos todos pela mínima discrepância
Desconsideramos sempre nossa medíocre ignorância
Só por considerar inquebrantável nossa estúpida certeza.

Somos todos, razão da mesma divindade.
Cumprimos todos aqui a mesma santa trajetória.
Seja branco, negro, índio, religioso ou ateu.
Vivemos desesperadamente procurando a salvação
Preocupamos demais em buscar no além o nosso céu.
E descuidamos de fazê-lo aqui tão perto.
Com sorriso e um abraço a um amigo mais carente.
Estendendo a mão a um irmão necessitado
Sem as nossas diárias agressões sem fundamento.
Amando nosso irmão como nos amamos.
Vivendo como crianças, que se preocupam apenas em brincar com a vida.
Mesmo assim foi dito que é delas o Reino dos Céus.
Lembremo-nos disso. Talvez esta seja nossa tão sonhada salvação.